Falta de chuva em São Paulo deixa represas com aparência de deserto

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Falta de chuva em São Paulo deixa represas com aparência de deserto

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Falta de chuva em São Paulo deixa represas
com aparência de deserto

Equipe do Fantástico conseguiu entrar, a pé, em áreas que, nesta época do ano, deveriam estar cobertas de água.

Em janeiro de 2010 só era possível ver a pontinha do paredão da barragem do sistema Cantareira. Agora ele está totalmente aparente. O paredão tem 14 metros de altura. Todas as pedras que antes estavam cobertas pela água, agora podem ser vistas.

É uma enorme faixa de terra até chegar à represa. É assim que estão muitas represas de São Paulo. O chão está tão seco que fica difícil de caminhar.

Até quando vai ter água nas torneiras da Grande São Paulo? “Nós estamos vivendo uma grande crise na região metropolitana nunca antes vista”, avalia Benedito Braga, presidente do Conselho Mundial da Água.

O Fantástico sobrevoou o sistema Cantareira, o principal abastecedor de água da Região Metropolitana de São Paulo. Hoje ele está com apenas 17% da sua capacidade. E a água captada vem do chamado volume morto, uma reserva técnica que fica abaixo do túnel de captação de água.

O Cantareira é formado por cinco reservatórios. A água passa de um para o outro, por túneis e tubulações, até ser bombeada para o alto da Cantareira, onde é tratada e levada para quase nove milhões de pessoas.

No fim de março, nossas equipes registraram a situação na maior represa do Cantareira. Agora, o Fantástico voltou nos mesmos pontos para fazer uma comparação. Quatro meses atrás foi encontrado um píer encalhado. E agora a faixa de terra está bem maior. O vão que se formou é tão profundo que dá para colocar a mão.

Em 2010, a repórter Glória Vanique passou de barco no canal que liga as duas principais represas do sistema. No fim de março de 2014, o repórter Renato Biazzi navegou no mesmo lugar. Com o nível bem mais baixo, viu os dois paredões que formam o canal. Agora não deu nem para chegar de barco. Nossa equipe foi por terra.

Muitos barqueiros que nós consultamos se recusaram a colocar o barco na água porque há risco dele encalhar. Em uma marina, as lanchas estão paradas. Uma delas, que saiu há seis meses pra um passeio, encalhou.

A represa do Cantareira, que está seca em muitos pontos, é uma das que abastecem a casa da Amanda. À noite, a água vai acabando. “Volta depois das 6h. Toda noite não tem água”, conta Amanda Tucci, moradora da Zona Norte de São Paulo.

Em nota, a Sabesp, empresa de saneamento básico de São Paulo, diz que visitou o local na manhã deste domingo (20), falou com moradores de rua da mesma região e constatou que não há registro de problemas de abastecimento nessa área da cidade".

A nota também afirma que eventuais problemas com a pressão da água podem ocorrer por conta das manobras técnicas operacionais pela interligação dos sistemas, em especial em algumas áreas mais altas.

A empresa está buscando água de outros sistemas, como o Guarapiranga e o Alto Tietê, para abastecer consumidores que antes eram atendidos pelo Cantareira. O Alto Tietê, que fornecia água para 3,9 milhões de pessoas, passou a abastecer 4,5 milhões e já começou a baixar também. A capacidade do sistema já está abaixo dos 23%.

Um exemplo é uma represa do Alto Tietê, em Mogi das Cruzes, na Região Metropolitana de São Paulo. Construções antigas, alagadas por causa da represa, estão aparecendo.

A empresa de saneamento de São Paulo diz que as represas estão assim porque não choveu o suficiente.

“A gente está vivendo um momento inédito na história. A gente teve, já em dezembro, uma situação de recorde negativo de chuva e o recorde negativo em janeiro. Exatamente no momento que deveria estar enchendo o sistema, ele não teve essa situação porque não choveu”, diz Marco Antonio Lopez Barros, superintendente de produção de água - Sabesp (http://g1.globo.com/topico/sabesp/).

O Fantástico pediu para o Vinicius, geólogo da USP (http://g1.globo.com/sp/sao-paulo/educacao/universidade/usp.html), reproduzir o solo que encontrou na Cantareira. Bem seco, todo rachado. Ele também simulou uma garoa, a mesma chuva dos últimos dias.

“Essa terra seca funciona como se fosse uma esponja. Até realmente essa água subir do nível do chão realmente demora um pouco, porque ela acaba sendo absorvida pela terra”, ele explica.

Especialistas consultados pelo Fantástico avaliam que, além da falta de chuva, as represas chegaram nessa situação crítica também porque faltou investimento.

“Por exemplo, mais reservatórios. Tem algumas obras que só vão ficar prontas para 2018, 2020, e já deveriam já estar prontas”, afirma Benedito Braga “O verão em si foi abaixo da média, mas ele não foi o único responsável. A gente está tirando muito mais água desses reservatórios do que a natureza é capaz de repor”, avalia Ricardo de Camargo, meteorologista do IAG/USP.

Fantástico: Vocês não tinham um plano B, só contaram com a chuva? Marco Antonio Lopez Barros: Não. A flexibilização do sistema é o nosso plano. A integração entre os sistemas é o que está propiciando, hoje, continuar garantindo o abastecimento da população.

A Sabesp diz que não vai ter racionamento e nem falta de água em São Paulo: “Da reserva técnica que nós já estamos usando hoje, que é de 180 milhões de metros cúbicos, nós ainda temos uma quantidade de água no próprio sistema que ainda não foi explorada e que chega a ser mais de 200 milhões de metros cúbicos. Permitiria a gente chegar até o mês de março sem chuva”, garante Barros.

A meteorologia prevê a chegada, na primavera, do fenômeno El Niño, um aquecimento anormal que pode trazer chuvas fortes. Mas ainda não dá para saber se essas chuvas vão cair em São Paulo.

“No começo de novembro, a gente já tem as chuvas começando a se estabelecer e começando a acumular volume de precipitação. A gente acredita que vai minimizar um pouco essa situação crítica, mas não vai ser aquele sossego que a gente gostaria que fosse”, diz Ricardo Camargo.

“A gente precisaria de cerca de 2 mil milímetros de chuva para encher o volume útil do reservatório. Só para ter uma ideia, aquelas chuvas de verão, quando chove muito em um dia, elas têm cerca de 100 milímetros. A gente teria que ter 2 anos bom de chuva, 3 anos bom de chuva”, avalia o geólogo Vinicius.

“A curto prazo, só tem uma solução: é economizar água, economizar água, economizar água”, alerta Benedito Braga.

Fonte: G1.globo




 
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