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Vizinhos travam captação de água do Paraíba
Passados quatro meses do anúncio do governador Geraldo Alckmin (PSDB) da transposição da Bacia do Rio Paraíba do Sul para o Sistema Cantareira, o polêmico projeto continua sem consenso com os estados vizinhos e corre o risco de não sair do papel neste ano.
Em março, o tucano havia informado que iniciaria a obra de R$ 500 milhões até julho, para conclui-la em 14 meses.
Agora, o governo paulista avisou que vai detalhar apenas em setembro a proposta que visa garantir o abastecimento da Grande São Paulo e melhorar a oferta de água para a região de Campinas.
O projeto deflagrou uma nova guerra pelo líquido, cada vez mais escasso. Municípios e entidades dos lados paulista e fluminense do Vale do Paraíba estão prontos para entrar na briga e tentar impedir que 5m³ da água do Rio Jaguari, represada em Igaratá, sejam levados por um canal de 15 quilômetros até a Represa Atibainha, no Sistema Cantareira.
A justificativa é que 180 cidades e 15 milhões de pessoas que dependem da Bacia do Rio Paraíba do Sul serão prejudicados.
“A posição do Estado do Rio continua irredutível. Não há como avançar sem conhecer o projeto de São Paulo. Hoje, nossa resposta é não”, afirmou o secretário do Meio Ambiente fluminense, Carlos Portinho, que ingressou no polo ativo da ação civil movida em maio pelo Ministério Público Federal (MPF) contra a iniciativa do governo paulista.
A proposta foi discutida semana passada entre representantes dos estados que dividem a Bacia do Paraíba do Sul (São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais), do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Paraíba do Sul (Ceivap) e da Agência Nacional de Águas (ANA).
Embora a utilização dessa água não necessite de autorização da ANA, Alckmin foi até a presidente Dilma Rousseff (PT) pedir apoio na negociação que terá de ser estabelecida com o Rio de Janeiro – ainda que o Rio Jaguari em questão seja o estadual, ele é o principal afluente do Paraíba do Sul, que poderá ter sua vazão afetada.
Por isso, como informou a ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, o uso desses recursos hídricos irá requerer interlocução com o governo fluminense.
Existem dois rios Jaguari, próximos um do outro.
Um, estadual, é importante afluente do Paraíba do Sul. Antes de chegar a ele, é represado entre as cidades de São José dos Campos e Jacareí, alagando áreas também em Igaratá e Santa Isabel. Ali existe uma usina hidrelétrica, subutilizada. É dessa represa que o governo do Estado quer retirar água para abastecer São Paulo.
O outro Jaguari é federal. Nasce nos municípios mineiros de Sapucaí-Mirim, Camanducaia e Itapeva e é afluente do Rio Piracicaba. Sua represa, na região de Bragança Paulista, é parte do Sistema Cantareira.
O arranjo da transposição foi elencado no Plano da Macrometrópole, mas abandonado na década passada por conta do conflito que pode gerar com o Rio de Janeiro.
Uma das alternativas é construir os canais que farão a transposição na faixa de domínio da Rodovia D. Pedro I.
Em março, Alckmin havia dito que a reversão de água poderia ocorrer nos dois sentidos do canal de 15 quilômetros e só seria feita quando as represas estivessem com menos de 35% ou mais de 75% da capacidade.
A obra, segundo o tucano, em nada ajudaria na atual crise do Cantareira, mas daria mais “segurança” ao sistema no futuro. Na época do anúncio da proposta, ele e o então governador do Rio, Sérgio Cabral (PMDB), trocaram farpas publicamente.
Em nota, a Secretaria de Saneamento e Recursos Hídricos de São Paulo informou que a elaboração do projeto começou “imediatamente após seu anúncio, em março, e já está em fase de contratação de estudos de impacto ambiental para obtenção de Licença Ambiental”.
Segundo a pasta, “demais detalhes ou propostas serão discutidos até o fim de setembro pelo grupo técnico” e a “previsão é de que a obra seja finalizada no verão de 2015/2016”.
Foto: Elcio Alves/ AAN
Rio Jaguari, no município de Igaratá, de onde o governo quer retirar água